terça-feira, 21 de abril de 2009

A LISTA de Aristides de Sousa Mendes - As homenagens de Israel

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.A LISTA de Aristides de Sousa Mendes

As homenagens de Israel


— "Como é que se chama aquele senhor que, em Bordéus, nos passou os vistos para podermos chegar a este país?"
— "Chama-se herói, filho. Quem faz o que ele fez por nós só pode ter esse nome."
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Se quisermos ter uma ideia do reconhecimento que os judeus dispensaram aos actos de Aristides de Sousa Mendes em favor do seu povo, é certo que não os devemos procurar em primeiro lugar na terra de Israel. Isso porque os primeiros e os mais genuínos agradecimentos vieram dos que estiveram em Bordéus, no centro destes acontecimentos. A angústia daqueles milhares de refugiados em França era tão grande, – não só em virtude das fronteiras que se lhes fechavam, mas também devido ao facto de se verem literal e estrategicamente empurrados para a Alemanha – que fez deles pessoas grandemente agradecidas e com uma percepção perfeita da dimensão dos feitos de Aristides. O grande agradecimento começou em cada um dos que tiveram o privilégio de receber das mãos do cônsul o visto para a liberdade. José Jorge Letria, em "Contos de um mundo com esperança", expressa bem essa realidade, ao fixar o diálogo entre uma criança e o pai, ambos em terras lusas, e já longe do pesadelo nazi:
— "Como é que se chama aquele senhor que, em Bordéus, nos passou os vistos para podermos chegar aqui?"
— "Chama-se herói, filho. Quem faz o que ele fez por nós só pode ter esse nome."
Com a carreira de diplomata totalmente destruída por causa da opção que tomara, a vida não se tornou fácil para ele nem para a sua numerosa família. As represálias vindas da primeira figura do poder político em Portugal não se fizeram esperar, e os recursos passaram a escassear de forma dramática. Já próximo dos últimos dias, as três refeições diárias tornaram-se impossíveis de satisfazer. "Tinham falta de tudo, até de leite para o pequeno-almoço" 2.
É então que novamente os corações judaicos lhe agradecem. A Comunidade Israelita de Lisboa estipulou uma verba mensal para ajudar Sousa Mendes, permitindo-lhe que pudesse comer na respectiva cantina, juntamente com a esposa e os seus filhos. São inúmeros os testemunhos dos que ali se cruzaram com ele.
Mas, a atitude irredutível de Oliveira Salazar, abriu a Sousa Mendes as portas à pobreza, que se abateu sobre ele de forma irreparável. Nessa tarefa, Salazar foi o obreiro-maior, aquele que o encaminhou para um fim de solidão e angústia, totalmente imerecidos para quem fez tanto pelos outros, e nada tendo pedido em troca. Sousa Mendes morre a 3 de Abril de 1954, em Lisboa.


Em Israel, David Ben Gurion, primeiro-ministro do país recém-formado, acaba por tomar conhecimento dos actos deste homem em favor do seu povo. As informações vieram pela voz de judeus norte-americanos salvos por Sousa Mendes, mas as palavras eram de duas das suas filhas, que, lutavam agora para reabilitar a memória do pai. E é em 1961 que recebem a notícia de que uma árvore evocativa dessa memória iria ser plantada no centro Yad Vashem, em Jerusalém. Com efeito, o acto teve lugar a 21 de Fevereiro. Yad Vashem, o Museu do Holocausto, é responsável por investigar as informações que lhes chegam acerca de homens e mulheres que, arriscando a sua própria vida, salvaram judeus no âmbito da Segunda Guerra Mundial, arrancando-os muitas vezes aos fornos crematórios dos campos. A esses homens e mulheres, Israel atribui o título de Gentio Justo. Desta forma, Aristides de Sousa Mendes torna-se no primeiro Justo entre as Nações, o título de maior reconhecimento que Israel atribui aos não-judeus.
Em 1966, o mesmo Yad Vashem toma a iniciativa de cunhar uma moeda comemorativa, onde se lê: "A Aristides de Sousa Mendes, o povo judeu reconhecido." No verso da medalha, a inscrição do Talmude: "Quem salva uma vida, salva a Humanidade."
No sul de Israel, no Neguev, foram plantadas 10.000 árvores em memória de Aristides: uma árvore por cada judeu que se estima que ele salvou. Ao norte, a cidade de Tel-Aviv também o recorda, num bairro nobre da cidade, onde há uma rua com o seu nome.
Na Bíblia, no livro de Provérbios, em 3:27 lê-se: "Não detenhas dos seus donos o bem, estando na tua mão poder fazê-lo." Felizmente que Israel soube dizer "obrigado".

"Mas estes judeus, que ainda estão vivos graças ao sacrifício dele, são uma homenagem à sua acção. Se cada um se recordar do homem que lhe prestou socorro, e viver uma vida inspirada nos princípios de Sousa Mendes, terá conseguido tornar realidade o sonho dele." (Harry Ezratty, in Jewish Life).

Eduardo Fidalgo


1 in "Contos de um mundo com esperança", José Jorge Letria, Lisboa, Texto Editora, 2003, Excertos adaptados
2 in "Aristides de Sousa Mendes, Um Herói Português", José-Alain Fralon, Editorial Presença, p. 96.

3 comentários:

João Tiago disse...

Um herói, expoente máximo de altruísmo.

pedrobritofotografia disse...

Encontro, todos em defesa da reconstrução da casa de Aristides Sousa Mendes

Data: Sábado, 19 de Junho de 2010
Hora: 15:00 - 20:00
Local: Cabanas de Viriato, em frente à casa do Passal.

Descrição .Nos próximos dias 17,18 e 19 de Junho faz 70 anos que Aristides Sousa Mendes salvou mais de 30.000 pessoas do Holocausto.
Para assinalar esta data, vamos tentar reunir o maior n.º de pessoas possível para que,simbolicamente, seja entregue o nome das pessoas que lutam por esta causa.
O encontro será em Cabanas de Viriato, em frente à casa, pelas 15 h, conto com a vossa presença.
Peço-vos a vossa autorização para que o vosso nome e fotografia constem numa faixa gigante que será colocada na casa bem como, na lista que será entregue presencialmente à Fundação (vários netos de Aristides estarão presentes)
Muito obrigada pela vossa generosa colaboração e mais uma vez volto a sublinhar que conto conto com a vossa presença.

Cidadão Comum disse...

Só a poucos anos tive conhecimento desse grande homem que foi o Sr. Aristides de Sousa Mendes.
E embora ela tenha morrido na miseria, acho que morreu com a maior das riquezas que um ser humano pode ter... o ter ajudado os outros, o ter contribuido para que várias famílias, ainda hoje, se possam juntar e lembrar esse Senhor. Não há melhor respeito por alguém do que ser lembrado pelo bem que fez e pelas vidas que salvou. Pena que hoje sejam poucos os que sigam esses passos.