quinta-feira, 30 de outubro de 2008

O que é um "Justo entre as Nações"?


O que é um "Justo entre as Nações"?

Aristides de Sousa Mendes, português.
Raoul Wallenberg, sueco.
Óskar Schindler, alemão.


Originários de nações diferentes, estes homens também viveram em zonas geográficas da terra diferentes. Todavia eles têm uma coisa em comum. O quê? Eis a resposta: Os três estiveram directamente ligados ao povo judeu num momento específico da História, e tiveram intervenções de grande coragem e carácter. Dessa forma, manter-se-ão para sempre ligados ao povo judeu, até porque todos eles foram agraciados pelo Estado de Israel com o título de "Justos entre as nações"! E o que significa esse título?

A II Grande Guerra Mundial
Apenas 21 anos decorridos sobre o final da I Grande Guerra, e já o mundo mergulhava novamente nos horrores de um novo conflito bélico. E, tal como a anterior, essa nova guerra de grandes proporções a que o Século XX assistiu foi recheada de episódios que mostraram contradições gritantes do próprio Homem. "Conhecimento, progresso e tolerância", as suas grandes bandeiras, acabaram por se mostrar tanto ineficazes como insuficientes para resolver a crise. O cenário apelava também à "prudência, realismo e astúcia", mas elas ficaram arredadas. Dessa forma, foi impossível conciliar os vários interesses divergentes equacionados nos pratos da balança. Mencionar somente a violência que se chamou "Hiroshima" será suficiente para se perceber o quão longe podem ir as (re)soluções do homem quando ele fica sujeito a pressões às quais não é possível furtar-se.

O final dessa Guerra Mundial não trouxe o desanuviamento natural que uma declaração de paz traz sempre após si. Pelo contrário, trouxe consigo a sombra de uma revelação ignóbil, talvez o mais grave dentre todos os acontecimentos ignóbeis que tiveram lugar durante o conflito: refiro-me, é claro, ao Holocausto.
Quando o mundo acordou do pesadelo da guerra e ficou livre dele, o espectro do Holocausto ocupou o lugar deixado vago. Percebeu-se então que nunca como naquele momento a máxima proverbial de Plauto fazia todo o sentido: Homo homini lupus – O Homem é o lobo do Homem! Ainda hoje, passados mais de sessenta anos, não existem respostas lineares para explicar como foi possível que um punhado de homens pudesse exercer um controlo tão extremo sobre outros, lançando mão de comportamentos doentios, e que o conseguisse fazer às escondidas do mundo. Que mecanismos afinal impelem o homem a constituir-se lobo de si mesmo, e a aniquilar o que lhe é semelhante, nem que para isso se tenha de transformar num monstro?

É amplamente sabido que este genocídio subtraiu a vida a seis milhões de judeus, dos quais um milhão e meio eram crianças. Mas, cerca de 3 anos depois, a 14 de Maio de 1948, nascia o Estado de Israel, e com ele o lugar onde o judeu podia, finalmente, estar na sua terra. A criação do Estado de Israel permitiu ao judeu contrariar o curso que a sua própria História tinha tomado nos dois milénios anteriores. Permitiu-lhe usufruir de uma regalia desconhecida de muitas das últimas gerações de judeus da Diáspora: a de não viver em terra emprestada, sob o espectro da segregação, imposta por sociedades anti-semitas.



Justos entre as nações
Foi em 1957 que, dando seguimento a uma lei emanada do Knesset, foi inaugurado o Yad Vashem, Instituição para a Comemoração dos Mártires e Heróis do Holocausto, tributo e Memorial Eterno àqueles seis milhões de judeus que pereceram no Holocausto. O nome – Yad Vashem – é retirado do versículo bíblico de Isaías 56:5, e significa "... uma mão e um nome ..." ou "... uma mão e um memorial ...". A criação deste Museu, levou a que se passasse a celebrar o nome de homens e mulheres que tinham arriscado as suas vidas para salvar Judeus durante o grande conflito. A eles foi dado o nome de "Justos entre as nações".
Ouçamos, no entanto, o testemunho que o Yad Vashem apresenta sobre esta matéria, ao mesmo tempo que a enquadra no cenário da II Guerra Mundial:


"Nesses tempos, havia trevas por toda a parte. Nos céus e na terra, todas as portas da misericórdia pareciam ter sido fechadas. O assassino assassinava, os judeus morriam, e o mundo lá fora adoptou uma atitude de cumplicidade ou de indiferença. Somente alguns tiveram a coragem de se importar. Esses poucos homens e mulheres estavam vulneráveis, com medo, e sem esperança – o que é que fez deles seres diferentes dos seus concidadãos? ... Por que é que eles eram tão poucos? ... Lembrêmo-nos: Aquilo que fere mais a vítima não é a crueldade do opressor, mas o silêncio do que observa ... Não esqueçamos, apesar de tudo, que há sempre um momento em que a escolha moral é feita. ... E assim, temos de conhecer essa gente boa que ajudou os judeus durante o Holocausto. Devemos aprender com eles, e em gratidão e esperança, devemos lembrá-los."

O termo "Justo entre as nações" tem a sua origem na tradição judaica – da literatura dos sábios – onde era usado para descrever os não-judeus que vinham em auxílio dos judeus em tempo de necessidade, ou os não-judeus que respeitavam os requisitos básicos da Bíblia. A lei de Yad Vashem introduz um novo significado ao termo, ao caracterizar os "Justos entre as nações" como aqueles que não somente salvaram Judeus, mas que arriscaram as suas vidas para o fazer. Este é o critério principal pelo qual o título é atribuído.

As "honras" devidas aos "Justos entre as nações"
Até ao final do ano de 2007, o Yad Vashem tinha reconhecido como "Justos entre as nações" cerca de 22.000 cidadãos de 44 nações diferentes, entre as quais Portugal, na pessoa do seu diplomata, e ex-Cônsul em Bordéus, Aristides de Sousa Mendes. Várias são as honras devidas a estes homens e mulheres. A atribuição do título é antecedida de um processo de autenticação, e ao agraciado é concedida uma medalha com o seu nome, e um certificado de Honra, sendo-lhe conferida a Cidadania Honorária do Estado de Israel. No entanto, se à data já tiver falecido, é-lhe outorgada a Cidadania Comemorativa. Para além disso, o seu nome está gravado na Muralha de Honra, no Jardim dos Justos. A medalha atribuída ostenta o ditado judaico: "Aquele que salva uma única vida, salva um universo inteiro" (Sanhedrin 37,71). O enorme significado desta citação fica plenamente demonstrado quando famílias de sobreviventes do Holocausto – com filhos, netos, e (hoje já com) bisnetos – vêm juntos para honrar o Justo que socorreu um dos seus. Frequentemente, eles representam somente o ramo sobrevivente de uma família inteira que pereceu. Na Avenida dos Justos entre as Nações, inaugurada em 1962, foram plantadas milhares de árvores (símbolo da vida que se renova), e ao lado de cada uma existe sempre uma placa com um nome, que nos recorda os feitos de um "Justo entre as nações".


Explicado que está o significado do que é um "Justo entre as nações", iremos trazer oportunamente ao Blogue algumas destas personagens que marcaram a História do mundo, e o enriqueceram com os seus feitos e a sua presença.

Eduardo Fidalgo

6 comentários:

Unknown disse...

achei extaordinario a frase "Aquele que salva uma única vida, salva um universo inteiro" (Sanhedrin 37,71)., creio que nunca mais me vou esquecer. Sinto que a referia frase se pode aplicar na nossa vida crista: qunado conseguimos, por intermedio do Espirito Santo, que alguem seja salvo, é como se todo o universo tambem rejubiliasse e fosse salvo. Deus, criador do universo se alegra quando uma vida é salva.
Fiquei com vontade de saber mais sobre, o nosso, Aristides, vou aprofundar mais o conhecimento sobre ele.

Gonçalves disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Gonçalves disse...
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Gonçalves disse...

Justo, justificar e justiça têm a mesma raiz. Justiça é empregada basicamente com dois sentidos na Bíblia: 1. a devida sanção por uma má ação; 2. atos de PLENA obediência. A vinda de Cristo ao mundo teve diversas razões, dentre as quais destacamos quatro das seis citadas em Daniel 9:24 - "extinguir a transgressão", "dar fim aos pecados", "expiar a iniquidade" e "trazer a justiça eterna". Note que Ele deveria trazer a JUSTIÇA ETERNA. Noutras palavras: Cristo viria como homem para viver por nós uma vida isenta de pecado e assim prover-nos salvação, uma chance de escaparmos da perdição. Efésios 1:13 nos revela que ao crer no evangelho o pecador recebe o Espírito Santo. Como se dá isso? Romanos 4:25 nos ensina que Cristo ressuscitou para a nossa justificação. O que é justificação? Como Jesus venceu, ou seja, obedeceu plenamente aos reclamos da lei divina, Deus agora pode tornar em JUSTO o pecador que verdadeiramente arrependido. Atentemos para um detalhe importante: não é um faz-de-contas. Deus muda a natureza do indivíduo. Esse milagre, que só ocorre com a presença da fé, é chamado de JUSTIFICAÇÃO. Esse novo ser, cuja natureza pecaminosa fora SUBSTITUÍDA pela divina, recebe como GARANTIA a presença do Espírito Santo em seu coração. Eis por que Paulo não diz, em Gálatas, "Mas o fruto de João, ou de Antônio, ou de Carlos é...". Ele diz: "Mas o fruto do Espírito [Santo] é...". Isso demonstra claramente que a vida do novo ser, recriado pelo lavar regenerador e renovador de Deus, é uma reflexão da própria vida do Salvador. Esse é o propósito do evangelho: fazer com que eu e você possamos, com o Espírito Santo habitando em nós, viver uma vida de PLENA OBEDIÊNCIA aos reclamos da lei divina, com o mesmo poder que houve em Cristo Jesus. Note que o que Ele diz de Si mesmo em João 16:33 - "... Eu VENCI o mundo." Compare essa passagem com o que o Espírito Santo, através do apóstolo João, escreve em I João 5:4 - "porque todo o que é NASCIDO de Deus VENCE o mundo..." João menciona que todo o que é NASCIDO de DEUS, ou gerado pelo Espírito Santo obtém a MESMA VITÓRIA que Cristo obteve.

Gonçalves disse...

E como se nasce de novo? Do mesmo modo como o leproso se via livre da lepra, como o cego se via livre da cegueira, como a mulher se viu livre do seu fluxo sanguíneo - PELA FÉ. A cura, a LIBERDADE, se dá para o problema espiritual da mesma forma como se dava para o problema físico. E era isso que Cristo queria despertar nas pessoas com tais milagres - SEU PODER DE CURAR O PROBLEMA FÍSICO ESTAVA A NOSSA DISPOSIÇÃO PARA CURAR-NOS DO NOSSO MAIOR PROBLEMA, O ESPIRITUAL. E nada se pode fazer quanto a esse problema, como nada se poderia fazer para se ver livre dos problemas físicos que por Seu poder eram solucionados. Então, qual a parte que temos a desempenhar nesse ato de cura do Salvador? Apenas crer. É isso mesmo. A justificação, confundida por muitos com a santificação, só ocorre por um milagre e nesta fase introdutória da salvação, só podemos participar com a fé, como fizeram aquelas desventuradas pessoas que suplicaram a cura ao Salvador. Se a Ele formos em busca de perdão, Ele não só nos perdoará, mas nos purificará. PERDÃO e PURIFICAÇÃO. O efeito do perdão é o apagamento dos pecados; e a purificação é o ato INSTANTÂNEO de Deus, em nos tornar JUSTOS. A partir dessa obra miraculosa o novo ser, livre do domínio do pecado, terá uma nova experiência: CRESCER em Cristo. Cada passo de sua vida será o reflexo da vida do Salvador. Esse processo é gradual e eterno. Essa é a SANTIFICAÇÃO. A cada estágio o novo ser é PERFEITO aos olhos do seu Criador, pois obedece á luz que lhe é concedida pelo Espírito Santo que nele habita, e que por Seu poder opera, tanto o querer como o efetuar. Viver como Cristo viveu é uma exigência de Deus, pois não tolerará que nenhuma mácula penetre as mansões celestiais. Cristo é o padrão estabelecido por Deus para os cidadãos do Reino Celestial. Jesus virá não para preparar um povo, mas para levar Seu povo que se preparou durante sua peregrinação aqui na Terra. Portanto, nós que amamos a Sua vinda devemos viver aqui como se lá já estivéssemos. Em Efésios 5:27 Paulo declina graficamente quem devemos ser hoje e, por conta disso, em II Timóteo ele declara veementemente: "... TODO o que profere o nome de Cristo APARTE-SE DA INIQUIDADE."
Que Deus nos abençoe!

Gonçalves disse...

A ordem é: "NÃO PEQUES MAIS." João 5:14.