terça-feira, 21 de abril de 2009

Aristides de Sousa Mendes

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Aristides de Sousa Mendes

Infância e adolescência
O ano de 1885 vê nascer em Cabanas de Viriato, Distrito de Viseu, Aristides de Sousa Mendes do Amaral e Abranches, e seu irmão gémeo, César. São filhos de Maria Angelina Ribeiro de Abranches e do juiz José de Sousa Mendes. A sua infância e juventude foi a típica de jovens sem problemas económicos, inteligentes e com acesso fácil à educação. Dessa forma, não foi de estranhar que, com 22 anos, ambos se tivessem licenciado em Direito na Universidade de Coimbra e depois seguissem a carreira diplomática. Aos 23, Aristides casa com a sua prima Angelina. O casal viria a ter 14 filhos.


A carreira política
Em 1910, Portugal vê nascer a República. Aristides é nomeado Cônsul em Demerara, Guiana Francesa. No ano seguinte, e até 1916, é Cônsul em Zanzibar, onde, no entanto, enfrenta problemas de saúde, aliás, da mesma forma que toda a família. Senhor de ideais monárquicos não escondidos, é castigado por causa deles, logo a seguir ao final da I Grande Guerra. Com trinta e seis anos dirige, de forma temporária, o Consulado de S. Francisco da Califórnia, cidade onde nasce o seu 10.º filho, e três anos mais tarde, torna-se Cônsul em S. Luís do Maranhão (Brasil). Depois, passa a dirigir, de forma interina, o Consulado de Porto Alegre (Brasil).
Em 1926, está novamente em Lisboa, desta vez para prestar serviço na Direcção-Geral dos Negócios Comerciais e Consulares, quando tem lugar a revolução militar do 28 de Maio conduzida pelo Marechal Gomes da Costa. Já em estado de Ditadura Militar, é nomeado Cônsul em Vigo (Espanha). No ano seguinte, Portugal vê ser nomeado Ministro das Finanças um homem que anos mais tarde tornaria a vida de Aristides num pequeno inferno: António de Oliveira Salazar. Entretanto, passa pela Bélgica, como Cônsul-geral em Antuérpia. No ano seguinte, consequência não só da conjuntura social mas também pelas qualidades que vinha demonstrando, Salazar torna-se Presidente do Conselho de Ministros do Governo de Portugal. Estava-se longe de imaginar que dentro daquele homem germinava o espírito de um ditador. E, ei-lo que dois anos mais tarde, nomeia Aristides de Sousa Mendes como Cônsul de Portugal em Bordéus. E essa é a nomeação vital para o trabalho que viria a desenvolver.


Surge um Homem ousado
A Península é pródiga em acontecimentos políticos, dentro do formigueiro político em que a própria Europa se tornou. Salazar e Franco assinam o Pacto Ibérico, e, a Alemanha de Hitler invade a Polónia, dando início à II Guerra Mundial. Já a caminho de um controlo absoluto da máquina governativa, Salazar chama a si a pasta de Ministro dos Negócios Estrangeiros, para além da Presidência do Conselho, que já detinha. E é então que o Cônsul em Bordéus, Aristides de Sousa Mendes, contrariando as ordens expressas do ditador, passa mais de 30.000 vistos a judeus e outras minorias perseguidas pelos nazis. Salazar não lhe perdoa nunca, porque não era homem para perdoar. Condena Sousa Mendes a um ano de inactividade profissional, para depois simplesmente e sem mais explicações o aposentar de forma compulsiva, e sem qualquer vencimento.



O princípio do fim
Em 1945, a II Guerra Mundial termina com a vitória dos Aliados. Várias são as cartas que Aristides de Sousa Mendes dirige então à Assembleia Nacional, reclamando (em vão) contra o castigo que lhe fora imposto pelo Governo. E tenta, de muitas outras formas, e por outras interpostas pessoas, sem sucesso, que o poder o reabilite, já que com família ainda a seu cargo, e sem salário, é com grandes dificuldades que sobrevive. O recheio da casa aristocrática da sua infância foi vendido peça a peça, e a própria propriedade acabou em miséria. Os últimos anos foram de dificuldade extrema, enquanto uma sociedade política, outrora solidária, lhe virava as costas. Os golpes duros sucederam-se, e, em 1948 morre a sua esposa, Angelina. Um fim triste aproxima-se a passos largos. Pobre, isolado, solitário, doente, extremamente doente, Aristides de Sousa Mendes, morre, em Lisboa, no Hospital da Ordem Terceira, a 3 de Abril de 1954. A classe política, embora caída a ditadura, só em 1988 reconheceu as suas razões. A Assembleia da República e o Governo português procederam, finalmente, à reabilitação oficial de Aristides de Sousa Mendes.
Após a sua morte, um dos seus filhos, Sebastião, escreveu: "Haja o que houver, reivindico orgulhosamente o facto de ter tido a felicidade de ser gerado por um homem desta estatura moral." Nós todos, portugueses, e da mesma forma, deveríamos reivindicar a felicidade e o orgulho de sermos seus compatriotas.
Eduardo Fidalgo
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