sexta-feira, 11 de março de 2011

Atentados de 11 de Março de 2004 em Madrid

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Completam-se hoje 7 anos sobre os ataques terroristas da Al Qaeda na capital espanhola, que mataram quase duas centenas de pessoas, e deixaram feridas quase dois milhares. Esta é a efeméride que BEIT ISRAEL traz à memória de todos, porque ela pertence ao tipo de acontecimentos que a sociedade não pode esquecer.

Não esquecermos, para que ela não se repita. Nunca esquecermos a violência gratuita e sem sentido, mas, muito mais do que isso, nunca nos alhearmos do que está realmente por detrás dos acontecimentos. Não esquecer as muitas tragédias que nos sobrevieram e as que poderão vir ao mundo perpetradas em nome da “fé”. Não de uma fé genuína, mas daquele tipo de “fé” que é capaz de tirar a vida ao próximo, a “fé” que comete barbaridades como a que aqui é hoje lembrada.

Todavia, nos dias de hoje, nenhuma “fé” – falando das mais representativas em número de fiéis – tem o direito de se achar depositária da moral dos homens, ou pregá-la do alto de uma superioridade que soaria sempre a falso. Ao identificarmos a “fé”, ou melhor, todas as “fés” que no passado ou recentemente encontraram razões e argumentos para matar o próximo em nome do seu “deus”, não é possível isentar nenhuma. Até poderei, do meu ponto de vista, ter em grande conta a minha própria religião, mas a “religião”, apenas e só por si, é um engano grave e uma armadilha ardilosa. Se o alvo da “religião” é ligar o homem a deus, na esmagadora maioria das vezes o propósito nunca é atingido.

Ainda sou dos que fui ensinado nos bancos da escola primária que as Cruzadas foram uma campanha gloriosa da cristandade, com o objectivo de libertar a Terra Santa do domínio do "infiel". E, quando, finalmente cresci o suficiente para querer saber “quem é o infiel?”, e me obriguei a mergulhar nos compêndios de História Universal, percebi que “o infiel” eram os muçulmanos e os judeus que habitavam em Constantinopla ou na Terra Santa. Sempre em perseguição da História, foi com surpresa que vim a ter consciência que aqueles cavaleiros cristãos, uma vez conquistado o seu objectivo, fecharam aqueles "infieis" dentro de mesquitas e sinagogas, aos milhares, bem na intimidade do seu próprio deus, mas apenas com objectivo de serem queimados pelas chamas obedientes dos servos de outra “religião”. Obviamente, foi tudo executado com muito zelo cristão (?). Em Jerusalém, por exemplo, esse zelo, traduzido em matança, foi de tal ordem que passados muitos meses após a conquista, ainda havia corpos nas ruas da cidade de David a aguardar sepultura.

Poderia facilmente apelar a outras “epopeias do cristianismo”. Acaso temos orgulho na forma como a pregação do evangelho foi feita entre os índios do Brasil? Ou de como em Lisboa a Inquisição se passeou pelo Rossio e pela Praça do Comércio? Acaso deveremos ter orgulho em tantos e tantos episódios da História europeia, em que ser cristão foi apenas sinónimo de ter o poder e a força para ser a única religião a dar as cartas?

Como disse, podia multiplicar os exemplos. Mas, como afirmei também, todas as religiões, sem excepção, têm as suas “epopeias vergonhosas”. No entanto, melhor do que enumerar erros no colectivo, será mais importante olharmos para dentro de cada um de nós, e, em honestidade com o nossa própria consciência, perguntarmo-nos: “Após ter bebido das doutrinas do meu deus e da minha excelente “religião”, até onde é que eu mesmo estaria disposto a ir, se fosse posto perante circunstâncias semelhantes”?

Que imagem é que o meu deus reflecte no mundo, sendo que eu sou um dos espelhos da sua luz? Saber responder é fundamental, uma vez que o mundo gira e avança influenciado pelo efeito que o meu deus tem em mim, e da influência que eu tenho no mundo. E o mundo…, diga-se, não é apenas esta bola imensa no Universo, mas é o meu país, é a minha cidade, o meu bairro, o meu prédio, é a minha família.

De forma regular, continuamos a assistir à tentativa de aniquilação do “infiel”. Para os Cruzados, o “infiel” era muçulmano e judeu. Mas em Espanha, há 7 anos atrás, o “infiel”era cristão. O que será e quem será no ano que vem? A consciência que precisamos ter de que estes conceitos têm e sempre tiveram um carácter volátil, é muito importante para entendermos que o que distingue o “infiel” de hoje e o “infiel” de ontem é apenas o facto de a “infidelidade” não morar sempre no mesmo templo.

Então, concluimos que as trincheiras podem ser diferentes, mas a dor e a destruição serão sempre iguais. E a sua origem pode estar dentro de cada um de nós, na pureza da nossa “religião” e bem mascarada de zelo “santo”. Instala-se quando o homem pensa que o seu deus está a revelar-lhe mistérios – e não está – ou quando unilateralmente faz alguma coisa pelo seu deus, que afinal ele nunca pediu.

Ainda que fora do contexto que o interpreta, quero citar um texto bíblico, porque, apesar de descontextualizado, tem um princípio que é sempre correcto: “Não por força, nem por violência, …” Zacarias 4:6
Terei sempre de ser cauteloso com o meu zelo. Porque a minha “religião”necessita de ser cuidada! Porque, afinal, todos somos “infiéis”.


Eduardo Fidalgo

Nota: Apenas com a finalidade de ser coerente com a mensagem aqui expressa, a decisão de não escrever determinadas palavras-chave com maiúscula, nomeadamente a palavra “deus”, é consciente. Também não é o objectivo do artigo identificar o deus verdadeiro e o deus falso, mas apenas por em destaque as motivações e os propósitos do coração do homem.

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Placa comemorativa da tragédia do 11.03.2004

Atentados de 11 de Março de 2004 em Madrid

Os atentados de quinta-feira, 11 de Março de 2004, também conhecidos como 11-M, foram uma série de ataques terroristas cometidos em quatro comboios da rede ferroviária de Madrid, capital da Espanha. A investigação policial e o auto do processo judicial fixaram como indício racional que a autoria dos atentados é de uma célula islamista local que tentava reproduzir as acções da rede terrorista Al Qaeda.
Trata-se do mais grave atentado cometido em Espanha até à actualidade, com 10 explosões quase simultâneas em quatro comboios na hora de pico da manhã (8:00). Mais tarde foram detonadas pela polícia duas bombas adicionais que não tinham explodido e foi desactivada uma terceira, que permitiu identificar os responsáveis. As bombas estavam no interior de mochilas carregadas com TNT (trinitrotolueno).
Morreram 191 pessoas e mais de 1.700 ficaram feridas. O comando terrorista foi encontrado e cercado pela polícia espanhola poucas semanas depois em Leganés. Os seus membros cometeram suicídio fazendo explodir o apartamento em que se tinham entrincheirado, quando os GEO iniciaram o assalto. Nesta acção morreram todos os membros presentes da célula islamista e um agente do grupo policial.

In Wikipédia

A peça pode ser lida na íntegra em http://pt.wikipedia.org/wiki/Atentados_de_11_de_mar%C3%A7o_de_2004_em_Madrid

Composição Gráfica: Eduardo Fidalgo
Foto "Cruzadas": Histoblog - História Geral
Foto "Placa Comemorativa": Wikimedia Commons






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