terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

A última Aliyah – I Parte

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O termo diáspora (dispersão) define o deslocamento, normalmente forçado ou incentivado, de grandes massas populacionais originárias de uma zona determinada para várias áreas de acolhimento distintas. O termo "diáspora" é usado com muita frequência para fazer referência à dispersão do povo hebreu no mundo antigo, a partir do exílio na Babilónia no século VI a.C. e, especialmente, depois da destruição de Jerusalém em 135 d.C.
Pogrom (do russo погром) é um ataque violento maciço a pessoas, com a destruição simultânea do seu ambiente (casas, negócios, centros religiosos). Historicamente, o termo tem sido usado para denominar actos em massa de violência, espontânea ou premeditada, contra judeus, protestantes, eslavos e outras minorias étnicas da Europa, porém é aplicável a outros casos, a envolver países e povos do mundo inteiro.
 Aliá ou Aliyah (ascensão ou elevação espiritual) é o termo que designa a imigração judaica para a Terra de Israel, que, até 1948, correspondia ao território do Mandato Britânico da Palestina, e a partir de 1948, para o Estado de Israel.
In wikipedia    
 
Sai-te da tua terra
São-nos mais que familiares as palavras com que Deus desassossegou Abraão há cerca de quatro mil anos, e que deram início à epopeia que acabou por tomar uma dimensão global. A saga hebraica começou em Ur da Caldeia, apenas com Sarai e aquele que ainda era chamado de Abrão – o que viria a ser conhecido e reconhecido como “o amigo de Deus” (Tiago 2:23). Após ele, a História acolheu as doze tribos, – o “povo de Deus”, – e, finalmente, culminou com a Pessoa de Jesus – o “Filho de Deus”. Na verdade, ao receber a mensagem, o Patriarca não pôde, de forma alguma, entender o peso e a amplitude das coisas que lhe estavam a ser entregues: muito mais do que apenas uma ordem para que mudasse de lugar, e de promessas que engrandeceriam a sua memória a médio e longo prazo, as palavras de Deus eram – e entendemo-lo agora mais claramente – subversoras da dimensão material e temporal. Elas tinham por missão rasgar o tempo, e tocar em épocas e em pessoas que viveriam num futuro ainda muito distante: no Messias, em Israel, e na Igreja, abraçando um período que começava naquele exacto momento e se estenderia até ao final dos tempos.
Sai-te da tua terra, e da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome, e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra. (Génesis 12:1-3).

Abrão obedeceu à visão, e saiu de Ur. Afinal, a terra que Deus lhe queria mostrar, era a mesma que hoje conhecemos como Terra Santa, Eretz Israel, ou simplesmente, a terra de Israel. Abrão foi o primeiro a fazer Aliyah, quem, pela primeira vez subiu à “terra que mana leite e mel” (Josué 5:6). Com o nascimento de Isaac (e não de Ismael), Abrão tornou-se Abraão, e a sua descendência multiplica-se de forma vertiginosa, dando jus ao novo nome. É então que Deus separa essa descendência (Levítico 20:24b) para viver com Ele páginas inéditas, e que haviam de culminar na vinda de Emanuel – Deus connosco. Muitos foram então os objectivos cumpridos. Muitos outros, porém, nunca foram atingidos. A relação entre Deus e este povo foi sempre caracterizada por alguma turbulência, e até mesmo muitas das oportunidades que resultaram da vinda de Jesus ao mundo, Aquele que haveria de o revolucionar, passaram despercebidas e foram em grande parte desaproveitadas.


Nasce a Diáspora
É sabido que após Josué ter estabelecido os israelitas na terra de Israel, estes vieram a conhecer épocas de glória e de desgraça. Alternaram-se tempos apoteóticos com tempos de desespero. E esse desespero esteve presente porque o povo escolheu viver longe dos objectivos traçados por Deus, e que tinham sido enunciados de modo muito claro. Nas planícies de Moabe, por exemplo, eles foram totalmente recapitulados por um Moisés estoicamente no limite da sua missão e perante um povo atento, mas impaciente por triunfar na terra recém-herdada. Por essa altura, e no tocante aos resultados, apenas o tempo o poderia dizer. E, quando finalmente o tempo falou, veio a constatar-se que idolatria, rebelião e iniquidade foram algumas das falhas a que Israel não conseguiu resistir, e nas quais caiu sem glória nem honra. Foram elas que levaram a que, anos mais tarde, o Reino das Dez Tribos soçobrasse perante a Assíria, e, do mesmo modo, o Reino de Judá fosse atirado para o exílio na Babilónia. Afinal, Deus não deixou passar em falso…
E as nações saberão que os da casa de Israel, por causa da sua iniquidade, foram levados em cativeiro, porque se rebelaram contra mim, e eu escondi deles a minha face e os entreguei nas mãos de seus adversários, e todos caíram à espada. Conforme a sua imundície e conforme as suas prevaricações, usei com eles e escondi deles a minha face. (Ezequiel 39:23-24)

Durante sete décadas, Judá experimenta o exílio forçado em terras da Babilónia. Lá longe, a Pátria está mergulhada em ruínas, o Templo já não existe, e o orgulho nacional sucumbiu – tudo leva a crer que Deus lhes virou as costas. Porém, após esses setenta anos, Ciro, o rei persa que o próprio Deus separou, põe termo à afronta e oferece-lhes a liberdade. A liberdade concebe, e dá à luz dois filhos, dois irmãos: um chama-se Regresso, o outro chama-se Diáspora. Têm corações judaicos, pensam e sentem Sião da mesma forma, mas têm propósitos diferentes, o que os faz caminhar em sentidos opostos. O Regresso, viaja com cerca de quarenta e dois mil irmãos (Esdras 2:64), e ruma à terra de origem, onde, em Jerusalém, o Templo caído aguarda pela restauração, muito à custa do empenho de corações transformados pelo arrependimento e saudade. A Diáspora, por sua vez, ruma com grandes multidões em direcção aos quatro cantos do mundo. A possibilidade de, finalmente, poder fugir ao infortúnio e ser senhora do seu futuro, a ânsia de viver em segurança, os sonhos legítimos de viver livre e o desejo de um recomeço pleno de dignidade, contribuíram para que não seguisse o caminho do seu irmão, o Regresso. A Diáspora irá contagiar gerações, e vai viajar através dos séculos. Chegará a ter números consideráveis, aumentados por causa da destruição do segundo templo (70 AD) e mais ainda com a abominação de Adriano (135 AD). Depois disso, e por muito tempo ainda, a face escondida de um Deus irado haveria de continuar a fazer estragos.
Os anseios da Diáspora, porém, nunca foram completamente concretizados. Nunca encontrou a segurança e a liberdade que tanto procurou, porque elas lhes fugiram sempre como água por entre os dedos da mão. Na verdade, a Diáspora poucas vezes foi verdadeiramente feliz. Muito pelo contrário, ao longo dos tempos, foi a violência, tanto física, como psicológica, como espiritual, quem veio ao seu encontro, criando situações que, de tão extremas e dramáticas, quase que transformaram a memória do Exílio Babilónico numa tribulação suportável. Também a rejeição e a incompreensão marcam presença na vida da Diáspora. É o início das marcas distintivas especiais, do uso obrigatório de determinadas roupas e cores, das relações sociais condicionadas e das profissões proibidas, das taxas e dos impostos desumanos – tudo e apenas por serem judeus. Confinados a ghettos com horas marcadas para entrar e sair deles, foram proibidos de exercer o culto de Moisés, e obrigados a vergar-se perante ídolos odiosos ou forçados a experimentar a água benta do baptismo cristão para se tornarem, também eles, “cristãos”. Foram banidos e desprezados por toda a gente, acusados de causar a Peste Negra e outras epidemias, de praticar infanticídio e de atraírem desgraças, como as secas e as tempestades. Morreram aos milhares em Pogroms, às mãos da Inquisição e no Holocausto, estes apenas exemplos das maiores tribulações que a Diáspora de Israel experimentou. Infelizmente, há muito que Deus as tinha percebido no horizonte de Sião:
E o SENHOR vos espalhará entre todos os povos, desde uma extremidade da terra até à outra extremidade da terra; e ali servirás a outros deuses que não conheceste, nem tu nem teus pais; servirás à madeira e à pedra. E nem ainda entre as mesmas nações descansarás, nem a planta de teu pé terá repouso; porquanto o SENHOR ali te dará coração tremente, e desfalecimento dos olhos, e desmaio da alma. E a tua vida como suspensa estará diante de ti; e estremecerás de noite e de dia e não crerás na tua própria vida. Pela manhã, dirás: Ah! Quem me dera ver a noite! E à tarde dirás: Ah! Quem me dera ver a manhã! Isso pelo pasmo de teu coração, com que pasmarás, e pelo que verás com os teus olhos. E o SENHOR te fará voltar ao Egipto em navios, pelo caminho de que te tenho dito: Nunca jamais o verás; e ali sereis vendidos por servos e por servas aos vossos inimigos; mas não haverá quem vos compre. (Deuteronómio 28:64-68).


Restauração plena
Filhos de um Deus que norteia os caminhos do homem e deseja fazer parte deles, os judeus acabaram por ser vítimas de escolhas pessoais e de projectos dos quais Ele foi deliberadamente afastado. Mas Deus nunca permite que os Seus planos desagúem na esfera amarga do castigo sem ter dado ao homem uma segunda oportunidade de se redimir. Por isso, a restauração plena do Seu povo esteve desde sempre nos Seus planos, e, no tempo certo – já nos dias em que vivemos – eles estão a sair à luz.
Os passos em direcção à restauração plena de Israel são bem definidos. Significam, na visão de Ezequiel (capítulo 37), a metamorfose que Deus lhe mostrou, em que um vale de ossos secos se transformou num vale de homens cheios de vida e Espírito de Deus. Significam a metamorfose de um povo em direcção à sua maturidade plena, tanto física como espiritual, tanto individual como colectiva. Três coisas faltam a esses ossos para que se tornem almas viventes: tendões, carne e espírito (Ezequiel 37:6). E essa é a tarefa que só Deus pode operar, e já está a operar. O renascimento de Israel como nação é um indicador fundamental. Da mesma forma fundamental e decisivo é a reconciliação que a Diáspora está a fazer com Eretz Israel. Daí que, muito em breve, a Diáspora deixará de existir – e Retorno – o nome do seu irmão, será o seu próprio nome também. Por fim, virá o tempo em que o povo judeu irá finalmente, e de uma vez por todas, reconhecer Jesus como o seu Messias. Por isso, as palavras de Deus a Ezequiel vão ecoando no tempo:
Então, me disse: Filho do homem, estes ossos são toda a casa de Israel; (Ezequiel 37: 11a).

Há ainda muito caminho para trilhar. Como tal, desengane-se quem pensa que as palavras da chamada de Deus a Abraão se esgotaram nele e nos seus descendentes mais chegados. Nos dias exactos em que vivemos, elas fazem-se ouvir novamente, mais válidas que nunca: “Sai-te da tua terra …” Passados todos estes anos, tornam a fazer sentido, e não apenas na Mesopotâmia, como outrora, mas por todo o mundo onde quer que haja um descendente do Patriarca Abraão – um judeu. É a última Aliyah, tema que iremos abordar a seguir.

Eduardo Fidalgo
A seguir, na continuação deste artigo: A última Aliyah é Hoje!

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