quarta-feira, 29 de abril de 2009

Yom HaZikaron – O Dia da Memória

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Yom HaZikaron – O Dia da Memória
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A nossa era conhece Israel como país independente desde 14 de maio de 1948. Mas não remonta a 1948 a existência de Israel como nação. É muitíssimo mais antiga que isso. Abraão, considerado o primeiro judeu, é mencionado nessa condição logo no primeiro livro do Antigo Testamento (Génesis 14:13), no episódio em que se dispõe a libertar o seu sobrinho Ló, cativo de reis inimigos, numa zona muito a norte do lugar em que habitava. Isto passou-se por volta do ano 2000 a.C.. Sabe-se que os seus descendentes, entretanto multiplicados em número, se fixaram no Egipto, e que lá foram feitos escravos. E que, por volta de 1450 a.C., liderados por Moisés, empreendem o Êxodo, a viagem que os levaria ao mesmo território que hoje habitam. Com Josué, e depois com os "Juízes", Israel continuou a consolidação tanto da sua estrutura social como territorial.
No tempo de Samuel, o último dos "Juízes", ultrapassa-se o patamar da simples representação tribal (ainda que ela se mantenha), e é com Saul que se inicia o período da monarquia, num reino único e de carácter nacional. Este reino, iria, no entanto, dar origens a dois outros: Israel ao norte e Judá ao sul, após divergências internas que tiveram a sua origem em questões de impostos. O reino do norte chegou ao fim no séc. VIII a.C. e o do sul, o reino de Judá no séc. VI a.C., com Zedequias. A perda do Templo de Salomão, foi, também, a grande contrariedade para este povo, que, ainda que exilado na Babilónia, vê Ciro, rei persa, promover o regresso à sua terra, dando-lhe também garantias de liberdade na reconstrução do Templo. Caberia a Zorobabel fazê-lo, para, cerca de 500 anos depois, Herodes o aumentar e o dotar a uma opulência e dimensão proverbiais. Contudo, estas não duraram muito, já que Tito, no ano 70, se encarregou de acabar de vez com esse lugar tão significativo da vida espiritual de qualquer judeu, e ainda hoje objecto dos seus sonhos. Em 135, Adriano desfere o golpe final numa terra onde os judeus deixam de ser bem-vindos, muda-lhe o nome, muda-lhe o destino.
A partir daí, são dezoito séculos de tentativas de restauração, de reconhecimento e de regresso. São episódios de sobrevivência, de luta, de utopia, de sofrimento, de luto e de dor. Homens notáveis, resistentes, heróis e sábios nascem e desaparecem, geração após geração. Todavia, sempre, em tudo o que foi vivido e em todos os que o viveram, uma frase continuou a ecoar através dos anos, uma frase que funcionou como esperança, quando muitas vezes não havia razões para ter esperança: "Para o ano, em Jerusalém!"
Num dia em que as bandeiras ficam a meia-haste, Israel reúne-se em torno da sua memória. São lembrados todos aqueles que tombaram, todos os que sofreram e os que se sacrificaram, todos os que contribuíram para um Israel hoje possível, dentro da Terra ou na Diáspora. Todos os soldados, civis, homens, mulheres e crianças que ajudaram a construir Israel com o seu sangue. Num gesto de reconhecimento todo o país pára e fica em silêncio. Por dois minutos, como se de um único e grande shoffar se tratasse, as sirenes lamentam-se. Israel lembra-se e está grato.


Eduardo Fidalgo
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